domingo, 12 de agosto de 2012

Subtrações




Entre um paciente e outro, buscava aquele recorte de horizonte: o céu e um prédio em particular, cujo azul inusitado me lembrava edifícios praianos. Sua alegria destacava-se em meio à vizinhança luxuosa, sóbria, cinzenta e impessoal. Aquela imagem me transportava para ensolarados dias no mar, onde em minha imaginação me banhava e recompunha para mergulhar no oceano do próximo inconsciente.

Certo dia, aquela pérola urbana desapareceu. Um novo prédio roubou-me a paisagem repousante, mas ainda restava um pedaço do céu: o próprio e seu reflexo nas janelas que se amontoavam, no estilo que se desejasse: modernas, neo clássicas, mediterrâneas, verdes, espelhadas.

De repente, buscando aquela nesga de céu, senti-me um canário enjaulado e, arfando, vislumbrei uma estrutura que se erguia a poucos metros de minha vista. Homens-formiga trabalham frenéticos e, rapidamente, percebi o céu encolher ainda mais, até sumir.

Baixando o olhar, agradeçi, então, pela presença das azaléias que coloriam desinibidas o pátio, às quais os pacientes não são indiferentes. Eis que baixa ao som de funk, um enxame de jardineiros-gafanhoto e degolam todas as flores – por ordens da síndica, esclarece o zelador, ante minha indignação.

É...parece que o apocalipse chegou antes da hora.