Entre
um paciente e outro, buscava aquele recorte de horizonte: o céu e um prédio em
particular, cujo azul inusitado me lembrava edifícios praianos. Sua alegria
destacava-se em meio à vizinhança luxuosa, sóbria, cinzenta e impessoal. Aquela
imagem me transportava para ensolarados dias no mar, onde em minha imaginação
me banhava e recompunha para mergulhar no oceano do próximo inconsciente.
Certo
dia, aquela pérola urbana desapareceu. Um novo prédio roubou-me a paisagem
repousante, mas ainda restava um pedaço do céu: o próprio e seu reflexo nas
janelas que se amontoavam, no estilo que se desejasse: modernas, neo clássicas,
mediterrâneas, verdes, espelhadas.
De
repente, buscando aquela nesga de céu, senti-me um canário enjaulado e, arfando,
vislumbrei uma estrutura que se erguia a poucos metros de minha vista.
Homens-formiga trabalham frenéticos e, rapidamente, percebi o céu encolher
ainda mais, até sumir.
Baixando
o olhar, agradeçi, então, pela presença das azaléias que coloriam desinibidas o
pátio, às quais os pacientes não são indiferentes. Eis que baixa ao som de
funk, um enxame de jardineiros-gafanhoto e degolam todas as flores – por ordens
da síndica, esclarece o zelador, ante minha indignação.
É...parece
que o apocalipse chegou antes da hora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário