sábado, 30 de março de 2013

Now



Now...         You 

One...          Two

Life...          Blossoms

Energy...      Connected

Now...         Eternity

One...          Divine

Love...         available

Now...         What?


(A conversation with John)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Chuva Gorda



Chuva gorda
faz apertar
passos e  olhos
Na esquina vejo
velho com ombros erquidos…
Inútil e instintiva proteção
Logo abaixo
na outra ponta
de sua mão-guia
descubro diminuto pompom
branco, meigo
lacinhos vermelhos nas orelhas
Desfaço o zoom e
vislumbro imediatamente
a matiz de fundo daquela cena.
Além do senso de ridiculo,
do peso da opinião alheia,
da interpérie e incômodo:
o Amor!
Penso como os homens que passeiam os cães-bebês
de suas mulheres me comovem!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Formiga




Errático caminhar
de uma formiguinha na bancada do banheiro
Impossíverl qualquer lógica
em seu traçado
algum objetivo
para sua jornada
Despencam qual raios
meus dedos fatais sobre ela
apoiando-se para receber
esmalte nas unhas
Mindinho, polegar, médio
sucessivamente adornados
procurando desviar daquele
diminuto ser
que talvez esteja a me fitar com assombro
Cantarolo algo, contente
alheia à tempestade
que se avoluma lá fora
A formiga pressente

Madrugada


Rajadas de vento
Trovoadas
Violam a madrugada
Canora, dulcíssima
Encurtam a respiração
Lembro do final do mundo
Sentiria saudade dos pássaros!

domingo, 12 de agosto de 2012

Subtrações




Entre um paciente e outro, buscava aquele recorte de horizonte: o céu e um prédio em particular, cujo azul inusitado me lembrava edifícios praianos. Sua alegria destacava-se em meio à vizinhança luxuosa, sóbria, cinzenta e impessoal. Aquela imagem me transportava para ensolarados dias no mar, onde em minha imaginação me banhava e recompunha para mergulhar no oceano do próximo inconsciente.

Certo dia, aquela pérola urbana desapareceu. Um novo prédio roubou-me a paisagem repousante, mas ainda restava um pedaço do céu: o próprio e seu reflexo nas janelas que se amontoavam, no estilo que se desejasse: modernas, neo clássicas, mediterrâneas, verdes, espelhadas.

De repente, buscando aquela nesga de céu, senti-me um canário enjaulado e, arfando, vislumbrei uma estrutura que se erguia a poucos metros de minha vista. Homens-formiga trabalham frenéticos e, rapidamente, percebi o céu encolher ainda mais, até sumir.

Baixando o olhar, agradeçi, então, pela presença das azaléias que coloriam desinibidas o pátio, às quais os pacientes não são indiferentes. Eis que baixa ao som de funk, um enxame de jardineiros-gafanhoto e degolam todas as flores – por ordens da síndica, esclarece o zelador, ante minha indignação.

É...parece que o apocalipse chegou antes da hora.   

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Escova



Escolheram-me dentre tantas outras. Estava enturmada naquele lugar, mas ansiava sair dali, ser útil. Queria mais para minha vida, de modo que me alegrei ao lançar-me no desconhecido carrinho. Poderia finalmente cumprir minha missão! Fui bem acolhida por aquele casal tranqüilo, amoroso e sonhador. Os dois pareciam conectados, felizes com a companhia um do outro. Havia um quê de novidade no ar. Algo fresco, que não sei explicar. Talvez comparável à pasta que me colocaram para facilitar o trabalho.

Naquela noite parti para a ação pela primeira vez. Senti-me tão realizada! Queria experimentar aquela sensação mais vezes! No entanto, os dias foram se acumulando, assim como a poeira em minhas cerdas azuis. Mantinha-me altiva, pronta para colocar os dons a serviço, mas meus préstimos não foram mais requeridos. Acho que ele não estava mais por ali... Pensei: o terei decepcionado? Fiz algo errado?

Via minha amiga cor de rosa pegar no batente 3X ao dia e eu seguia encostada, no período de experiência. Certa vez, a moça fitou-me saudosa e algo triste. Para minha surpresa, ternamente, me pegou para pentear as sobrancelhas. Fiquei feliz quando ela sorriu. Desde então, minha missão tem sido mais leve e estética...terei queimado meu carma?

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Arabian Eyes



Final de tarde, algo cansada estava. Aguardava sem muita vontade o último candidato para entrevistar. Nada da criatura comparecer ou ligar. Ao contrário dos iluminados, pensava na próxima tarefa... Meus olhos baixos apreciando rascunhos de uma poesia improvável. De repente, ele veio em minha direção. Intenso, sombrio, barba de sábio, olhando-me como se quisesse falar. Recebendo o bote, a respiração suspensa, fiquei incrédula com sua audácia invulgar. Quase esbarrando, sem desviar o olhar, passou vigoroso, apenas a tempo de eu perceber que levava na mão uma malha de jovial listrado. Inesperado contraste para aqueles olhos de outra época e lugar, muito distantes dali. A energia daqueles segundos foi possuindo minha essência, embaralhando os pensamentos. Acompanhei seu caminhar, sem vergonha. Tão vital e magnético, neste lugar de zumbis. Quem é você?